terça-feira, 14 de outubro de 2014

Quatro Estações





   Faria precisamente no mês que se avizinha um ano que deixei de desnudar a minha alma por escrito. Completaria hoje no calendário de um vazio imenso os 365 dias que bloquei o peito a sete-chaves. Deixei de escrever. Deixei de te escrever.
   O nosso relacionamento é como as quatro estações, mas diria melhor, as "quatro estações" da actualidade. Ora estávamos agarradinhos um ao outro ou então não nos podíamos ver se quer à frente. O nosso amor estava bipolar, como a meteorologia de hoje. Desejei prolongar o brilho do Verão, mas quando observava os troncos das árvores previa a chegada do Outono. As folhas desbotavam uma tonalidade amarelada e seca, demasiado pesadas, quebravam e caíram no solo. Eu sabia que a seguir se prosseguiria o Inverno. A precipitação caiu, a tempestade ficou. E nunca mais consegui contemplar o sublime arco-íris. Como é que o temperatura mudou tanto num curto-espaço de tempo? Tal como hoje sucede com as tradicionais estações, nós passamos a ter, o quente e o frio.
   O nosso amor transformou-se na Grande Guerra. No meu intimo, ainda alimento a esperança que gostamos um do outro. É como na Guerra, podemos saber lutar, mas não conhecemos a estratégia infalível. Somos guiados por outrem, somos dominados. Nós apenas obedecemos à lei da vida, como tal, não nos preocupamos ou então não soubemos lutar por aquilo que mais importa, o amor. Simplesmente sujeitam-nos ao quotidiano universitário tal como os soldados se submetem às ordens e regras da Pátria. Sem quereremos e sem nos apercebermos, o nosso amor reflectiu uma das características principais e únicas de um dos mais mortíferos acontecimentos da Humanidade. O nosso amor começou a viver num impasse, mas emocional. Tal como a Grande Guerra ficou marcada pelo impasse das trincheiras, o nosso amor ficou sujeito à falta de estratégia, à escassez de alimento, ao frio, à passagem do tempo e dos dias. No fundo, sei que estás do lado oposto da trincheira, mas que lutas pelo mesmo objectivo. Eu amo-te. E sei que me amas, mas é à tua maneira. Talvez, ambos quissemos que este amor continuasse, mas sem experiência neste nível militar que é o amor, não há armas que o defendam quando não se luta com os valores que embalam o coração. O meu amor é o meu maior escudo. 
    O que mais é apavorante é saber que é desconhecido o momento que te irei deixar de amar, pois sei, que o esquecimento é um processo extremamente complexo, duradouro e crucial, e que ainda assim, quando se ama alguém de forma incondicional torna-se uma adversidade aceitar a sua perda eterna. Por mais que se mate um amor, é possível viver na saudade das memórias, e para sempre. Não te queria deixar de amar, porque bem lá fundo, eu sei que iriamos conseguir vencer esta guerra juntos. Tu não és meu aliado. Assim, não há nada que possa fazer, somente me resta seguir em frente com a mesma coragem que entrei neste acontecimento marcante. O esquecimento é a dor das maiores dores. Não nos podemos esquecer da bravura de um soldado lutando pelos seus ideais, tal como não podemos negar ou esquecer o quanto e como nos amávamos. 
   Sei que continuas no acomodação da arte da vida boêmia. Por momentos acredito que já não me ames, ainda assim, confio que gostes de mim, tal como eu quero aprender a gostar somente de ti. Quero desistir de te amar. Tu estás distante fisicamente, e ainda assim, tão perto, aqui dentro. No silêncio da madrugada, quando te atiras para cima da cama já turvo, sei que talvez devas sentir a falta do meu corpo junto ao teu, de acordares em conchinha, que sentes saudades do cheiro da minha pele. Quando fechas os olhos, provavelmente pensas em mim. Entre a lucidez das recordações e os sonhos inconscientes e misturados fruto do álcool, voltas a amar-me com a mesma intensidade, a mesma forma pura, infantil e única. 
  Hoje estou longe de ti, sei que por opção minha. Os quilômetros de estrada auxiliam o apaziguamento da tua imagem no pensamento. Não é o suficiente, é certo.  Cada lugar me lembra de ti. Ainda assim, ajuda. Desesperadamente quero tirar-te o papel de protagonista da minha vida. Quero recomeçar um novo capítulo. E não consigo. Olho para os papéis e vejo-os vazios. Não me preenchem. Tão pouco quero rascunhos. Tu ensinaste-me que amar só não basta. O amor não comanda uma vida, não alimenta uma relação. É preciso mais, muito mais. 
   A nossa relação conheceu o seu desfecho não por falta de amor (isso nunca nos faltou!), quiçá por falta de estímulo, de vontade, de dar, de entrega, de respeito, de compreensão. É desgastante um amor morrer lentamente.
   Não sei se tenho saudade de ti ou sinto apenas a tua falta. Não tens a culpabilidade exclusiva, ainda assim, magoaste-me uma vez mais. Nunca se sabe ao certo quando alguém nos deixa por um momento ou parte para sempre, nunca conseguimos identificar quando chega o fim ou quando ainda pode haver recomeço. As razões já não me importa. Só queria que tivesses procurado ter consideração por mim e seres um homenzinho dizendo: vou sair da tua vida, Laura! Reconheço que o amor é "isto", tal como sentia que o teu estava a chegar ao fim. Ele não conseguiu resistir à rotina (ainda que bem vivida!), à erosão do tempo, às cicatrizes do passado, à revolta da vida. Eu sei o porquê. Nenhuma pessoa é feliz quando não é ela própria. Ninguém é feliz prisioneiro. Ainda assim, nunca te prendi. Tu vivias preso, mas não a mim. A teu lado conjuguei todos os verbos e em todos os tempos. Conjuguei o verbo: conhecer, apaixonar, sofrer, habituar, acreditar, sonhar, lutar, viver, desistir. Acredito que aprendi a lição com esta nossa paixão. Contigo aprendi que desistir conjugado no presente, pode ser o triunfo do futuro. É certo que demorei uma imensidade de tempo a aceitar, a assimilar. Aprendi que não lutar mais, por vezes, pode ser uma mais-valia. Tu ensinas-me todas as contrariedades da vida.
   Acredito que tenhas aprendido tanto comigo como eu contigo. Não foi em vão, embora tu ainda não consigas alcançar o quanto te ensinei. Não sei quando vou voltar a ver-te. Sei que hoje fujo. Mudo de passeio até. Não sei quando irei sentir a maior dor: alguém no meu lugar. Também te digo, já não me preocupo mais com essa situação. E quereis saber o porquê? É simples. Guardei-te no peito antes de concordamos com o inevitável. Apesar de não prever, já o temia. Quando o "sexto sentido" ou lá o que quereis chamar fala mais alto que o coração, o pensamento planeia tudo, sem que a alma se aperceba. O coração ficou quieto à decisão tomada, reconheceu que a cumplicidade por si só já não valia nada e que nem sempre o caminho certo é caminhar por um troço já traçado. Só soluçou por saber que há momentos que a pior dor não é remetida para a perda, mas sim para a angústia de imaginar tudo aquilo que não se conseguiu realizar juntos. Isso mata-me. Consome-me aos poucos. Assim, te digo: o que vivemos é dos maiores patrimónios, se não, o que mais se irá perpetuar no tempo, e poderá seguramente torna-se eterno. 
   Estou a tentar aprender a guardar as lembranças do sentimento mais profundo que já senti e que, perdi. Mas sei que amar implica deixar ir. A vida é como um puzzle. Julguei que serias a peça que me faltava para completar o desenho. Mas não és ou então não estava virada de forma correcta, não encaixou, não completou. Ainda assim, deu mais sentido a esse retrato. Não consigo interpretá-lo e talvez nunca venha a descobrir. Nunca se sabe qual é a peça a seguir. Mas aprende-se bastante com a que se coloca, embora que complete na totalidade, dá mais forma. A vida é assim. Ela é um jogo e só é realmente feliz quem se atira ao abismo e não receia viver desafios, ainda que as jogadas se virem do avesso e contra nós próprios. Não importa que sejas obrigado a jogar outro jogo, sei que não te vais esquecer das instruções, regras, ou o que lhes quereis chamar deste puzzle infinito. 
  A tua instabilidade ensinou-me que a vida é ainda mais sujeita a constantes mudanças e a inesperados acontecimentos. Hoje ainda me é difícil olhar para ti, passar a teu lado fingindo que não és nada, quando significaste tudo, e ainda és grande parte dele. Nunca outrora me foi tão complicado saltar de um nome para o outro, de amor para amizade. Quero olhar para ti e sentir-te numa memória. Para isso, tenho que esquecer tudo. Parece fácil.
   Se o tempo nos rouba muito, hoje, acredito que vai ser o meu maior aliado. O amor é como uma sombra. Se a seguires, ela foge. Se te ficares estático, ela segue-te. A tua sombra persegue-me. Quero olhar para trás e não ver mais o teu reflexo.
    Não tenho pressa em arrancar-te de mim, mas também não quero perder tempo, num tempo que já não existe. A meteorologia mudou.  Espero que aprendas a lidar com o orgulho ou arrependimento, ou então que encontres o rumo certo. Eu aqui fico a aprender a lidar com a saudade e a tua ausência. Procurei saber a verdade, corri o risco de a encontrar. Em que resultou? Sem ti ficar.
   Hoje acredito que não resultamos juntos nem tão pouco separados. Não damos certo como um casal, muito menos como amigos ou meros conhecidos. Talvez, seja fadum. Não damos certo de forma alguma. Ainda assim, o que nos une, é um fio condutor de amor, de um sentimento excessivo, quiçá seja esse o responsável por tudo. Pode ser por isso que não consigo desistir de ti, de nós.
   Talvez tenha vivido as quatro estações em momentos certos ou em improvisos felizes. Ou então, talvez tu tivesses num Verão e eu já no Inverno. Não sei. Não me importa mais. Apenas sei que para se ler um livro juntos, é preciso estar na mesma página, caso contrário, é imprescindível mudar de capítulo. Por isso, anseio uma nova estação, quero esquecer esta paixão que tanto me sufoca o coração.
Porquê encontrar explicação para este tipo de fenómenos? Há coisas sem explicação, eu e tu, somos uma delas.

Aguardo pacificamente a mudança de tempo.

LM 




domingo, 12 de outubro de 2014

Oportunidades são como um rio

Enquanto as pessoas não aprenderem a agarrar as oportunidades, nada fazem da vida, nada aprenderem, e quiçá se arrependem. Valorizem-nas. Agarrem-nas. Elas podem parecer imensas, mas não passam de um momento bizarro como a água do rio, por mais que se pense e se acredite que passa no mesmo sítio, não passa. Por isso, se não as vivenciares e aproveitares as oportunidades podes não ter tempo de voltar atrás.